quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Os últimos dias

Que a terra há de comer,
Mas não coma já.

Ainda se mova,
para o ofício e a posse.

E veja alguns sítios
antigos, outros inéditos.

Sinta frio, calor, cansaço:
para um momento; continue.

Descubra em seu movimento
forças não sabidas, contatos.

O prazer de estender-se; o de
enrolar-se, ficar inerte.

Prazer de balanço, prazer de vôo.

Prazer de ouvir música;
sobre o papel deixar que a mão deslize.

Irredutível prazer dos olhos;
certas cores: como se desfazem, como aderem;
certos objetos, diferentes a uma luz nova.

Que ainda sinta cheiro de fruta,
de terra na chuva, que pegue,
que imagine e grave, que lembre.

O tempo de conhecer mais algumas pessoas,
de aprender como vivem, de ajudá-las.

De ver passar este conto: o vento
balançando a folha; a sombra
da árvore, parada um instate
alongando-se com o sol, e desfazendo-se
numa sombra maior, de estrada sem trânsito.

E de olhar esta folha, se cai.
Na queda retê-la. Tão seca, tão morna.

Tem na certa um cheiro, particular entre mil.
Um desenho, que se produzirá ao infinito,
e cada folha é uma diferente.

E cada instante é diferente, e cada
homem é diferente, e somos todos iguais.
No mesmo ventre o escuro inicial, na mesma terra
o silêncio global, mas não seja logo.

Antes dele outros silêncios penetrem,
outras solidões derrubem ou acalentem
meu peito; ficar parado em frente desta estátua: é um
torso de mil anos, recebe minha visita, prolonga
para trás meu sopro, igual a mim
na calma, não importa o mármore, completa-me.

O tempo de saber que alguns erros caíram, e a raiz
da vida ficou mais forte, e os naufrágios
não cortaram essa ligação subterrânea entre homens e coisas;
que os objetos continuam, e a trepidação incessante
não desfigurou o rosto dos homens;
que somos todos irmãos, insisto.

Em minha falta de recursos para dominar o fim,
entrentanto me sinta grande, tamanho de criança, tamanho de torre,
tamanho da hora, que se vai acumulando século após século e causa vertigem,
tamanho de qualquer João, pois somos todos irmãos.

E a tristeza de deixar os irmãos me faça desejar
partida menos imediata. Ah, podeis rir também,
não da dissolução, mas do fato de alguém resistir-lhe,
de outros virem depois, de todos sermos irmãos,
no ódio, no amor, na incompreensão e no sublime
cotidiano, tudo, mas tudo é nosso irmão.

O tempo de despedir-me e contar
que não espero outra luz além da que nos envolveu
dia após dia, noite em seguida a noite, fraco pavio,
pequena amplo fulgurante, facho lanterna, faísca,
estrelas reunidas, fogo na mata, sol no mar,
mas que essa luz basta, a vida é bastante, que o tempo
é boa medida, irmãos, vivamos o tempo.

A doença não me intimide, que ela não possa
chegar até aquele ponto do homem onde tudo se explica.
Uma parte de mim sofre, outra pede amor,
outra viaja, outra discute, uma última trabalha,
sou todas as comunicações, como posso ser triste?

A tristeza não me liquide, mas venha também
na noite de chuva, na estrada lamacenta, no bar fechando-se,
que lute lealmente com sua presa,
e reconheça o dia entrando em explosões de confiança, esquecimento, amor,
ao fim da batalha perdida.

Este tempo, e não outro, sature a sala, banhe os livros,
nos bolsos, nos pratos se insinue: com sórdido ou potente clarão.
E todo o mell dos domingos se tire;
o diamante dos sábados, a rosa
de terça, a luz de quinta, a mágica
de horas matinais, que nós mesmos elegemos
para nossa pessoal despesa, essa parte secreta
de cada um de nós, no tempo.

E que a hora esperada não seja vil, manchada de medo,
submissão ou cálculo. Bem sei, um elemento de dor
rói sua base. Será rígida, sinistra, deserta,
mas não a quero negando as outras horas nem as palavras
ditas antes com voz firme, os pensamentos
maduramente pensados, os atos
que atrás de si deixaram situações.
Que o riso sem boca não a aterrorize
e a sombra da cama calcária não a encha de súplicas,
dedos torcidos, lívido
suor de remorso.

E a matéria se veja acabar: adeus composição
que um dia se chamou Carlos Drummond de Andrade.
Adeus, minha presença, meu olhar e minas veias grossas,
meus sulcos no travesseiro, minha sombra no muro,
sinal meu no rosto, olhos míopes, objetos de uso pessoal, idéia de justiça, revolta e sono, adeus,
adeus, vida aos outros legada.
de Carlos Drummond de Andrade

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Contradições XX

Eu sempre me revolto com padrões criados pela sociedade. Principalmente no que diz respeito ao monopólio entre louça suja e mulheres. Mas tu que é XX vai ter que concordar comigo. Imagina a situação: Ansiosa, depois de um dia exaustivo e de ter passado da linha vermelha de carboidratos e lipídios, se depara com aquela louça para lavar. Não sei vocês, mas ela consegue se comunicar comigo: Vem, me lava. É incrível.
Enfim, essa querida introdução foi para dizer que preciso refletir e organizar meus pensamentos. E preciso lavar a louça também. Quem sabe depois dessa terapia, eu me inspire e escreve algo brilhante? Acho que vai funcionar.
Nada do que dar sentido para os gestos mais banais do cotidiano. Adoro transformar cada tédio em algo produtivo. Tente também. :*

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Voltei para tirar uns 4 meses de atraso. Como em tão pouco tempo as coisas podem mudar tanto? Mudança não é sinônimo de melhor ou pior. Apenas diferente.
Desde fevereiro até alguns dias atrás, meus pensamentos acadêmicos se restringiam em: pela manhã fazer meu papel de estudante no seu tempo e, a partir da 13h 30min, aprender como trocar a lâmpada ou arrumar o ventilador. E quais foram as conseqüências de um ano turbulento? Estresse. Herpes e alguns dias mofando no hospital. O aprendizado de um ano inteiro e algumas amizades verdadeiras compensou a correria. Mas a vida é feita de escolhas e, muitas vezes, a dúvida se faz presente; Felicidade ou facilidade? Depende da freguesia. Se me perguntar o que eu quero da minha vida, eis a resposta: Não tenha mínima ideia. Mas tenho convicção do que eu não quero. Contentar-me com o mínimo não faz parte dos meus planos. Assistir gincana, dar bandinha no centro, trabalhar na Gerdau, gkn ou Tractebel, não constam na minha lista de pretensões mesmo.
Mas enfim, nada de post narcisista e auto-suficiente, vim aqui perguntar se alguém sabe o porquê pensamos da maneira que pensamos e, logo, agimos. Como alguém pode não ter orgulho próprio e bancar um puxa-saco não correspondido? Se descascarmos todos os problemas da galáxia, estará lá no fundinho o agente: A falta de educação. Alienação se alimenta de falta de cultura e acarreta problemas graves.
Infelizmente eu não presenciei o Brasil na metade do século XX, onde sua população jovem era reconhecida pela garra e sede de revolução. Aquele que existia antes dos governos neoliberais de Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso, um jovem que sabia do seu papel na sociedade e que lutava por mais justiça social.
Em tempos de globalização e de avançadas tecnologias, é notável ver que em muito pouco tempo a evolução foi agressiva. Evoluir para melhorar? Acho que não. A prova disso foi o recente festival de música SWU, boatos eram de que era um Woodstock dos tempos modernos. Grande ilusão a dos jovens do século XXI. O Festival de Woodstock foi uma manifestação contra a violência social do fim dos anos 60, guerra do Vietnã e uma busca pelos direitos civis. O SWU foi um grande festival de música em prol da sustentabilidade – além de ter contado com bandas excepcionais. O grande problema da atualidade é o efeito estufa e suas conseqüências, mas será a divulgação a solução?
A chave está na educação. Pessoas desinformadas e sem conhecimento das escolhas tomadas, são facilmente corruptíveis, caindo sempre na ladainha imposta pela arma social criada dentro de casa: a mídia. Tenho pena de jovens que dizem: “Tô nem aí para a política”. Esses são os futuros pais de nosso país. E o pior: eles não têm o direito de reclamações contra desvio de verba e político corrupto. Além do mais, político só desvia para poder pagar as dívidas com as mentes corrompidas. Vergonha? Revolta? Falta de ação? Não, não, esse é só o Brasil, o TEU país.




Vai aí a letra da música "Mundo Jovem" da Negra Li. Ilustra um pouco da mensagem que eu tentei transmitir.


Ei Mundo Jovem
Mundo Jovem, Mundo Jovem
O futuro é de vocês
Ei Mundo Jovem
Mundo Jovem, Mundo Jovem
Vocês só tem viver
Ei Mundo Jovem
Mundo Jovem, Mundo Jovem
O Mundo é de vocês
Ei Mundo Jovem
Mundo Jovem, Mundo Jovem
Livre pra viver

Como pode o homem viver e esquecer o futuro?
Sabe que ele planta hoje amanhã os jovens que colherão os frutos
Visam o poder, fama, lucro, dinheiro sujo. É inútil.
Sabedoria é bem melhor do que isso tudo. É o nosso estudo.
Pra gente mudar o mundo é só estar junto. Não é pedir muito.
Basta ceder um pouco, respeitar o outro, amarem todos, ser justo.
Na lembrança a infância, inocência de criança é a esperança.
É tempo de mudança, confiança.

Mundo Jovem...

Homem de pouca fé reclamam daquilo, disso
Se sentem sozinhos mas nunca evitam fazer inimigos
Dê exemplo aos seus filhos, a vida é como é.
Ensine-os a não enfrentar e sim desviar dos conflitos.
Todos tem dentro de si um pouco de herói, um pouco de covarde
Pra se desculpar enfim, é preciso ter muita coragem
Nunca é tarde
Quem tem atitude e força de vontade faz sua parte
Não é um covarde

Ei Mundo Jovem...

Quem não quer viver a liberdade de um jovem?
Quem não quer viver sem preocupar-se com a morte?
Então não ignore
O mundo chora quando chove
só você não vê
E insiste em perder sua juventude
Está dentro de você sua virtude é poder escolher
Então mude pelo o bem, não seja rude
Mude pelo bem
Mude

Ei mundo jovem...

Mundo já vem
Livre pra viver...





Obs.: Qualquer revolta, comentário, necessidade de abraço, chamar para sair, enfim, contato, meu e-mail é schmiidt@hotmail.com (popular usar o messenger como e-mail ahuahua)


Até mais

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Receita

Como primeiríssima postagem, cabe a mim não metralhar ninguém com assuntos mirabolantes, mas sim fazer uma tentativa de introdução ou apresentação, que seja. Particularmente não curto me definir. Talvez por não saber ao exato o que me configura, por não chegar a um consenso, ou por estar em fase de descobertas. Certa vez, em meados de 2009 e no auge das minhas tardes tediosas, senti uma inspiração e criei um texto. Pôde ser uma crônica, um poema, não sei, mas expressou perfeitamente algumas das minhas vontades e manias da época. Tem algumas que até hoje convivo, mas hoje leio e vejo que como em alguns meses tudo pode mudar. Mudar para o diferente, não significa mudar para pior. Talvez eu venho vendo o mundo com olhos distintos a cada dia que passa. Pior seria se eu vivesse estacionada em pensamentos suspensos no ar. Dentre minhas conclusões, posso ressaltar que tenho fome por inovações e sede aventura. O corpo humano não foi projetado para ficar parado. Ninguém se sente totalmente satisfeito. Sempre há um espaço não preenchido por alguma ansiedade. Isso é bom, ajuda na busca da perfeição. Ou não. Em minha postagem de hoje, quero fazer um panorama de como foi e vem sendo a minha tão projetada vida. Não revelarei nada, não omitirei nada. Quero só ver como ela fica engraçada relatada aqui, com todas as suas idas e vindas.


Atualmente, pessoas andam me falando que não tenho vida por estudar em dois colégio simultaneamente. Tenho que admitir que foi inesperada tal decisão. Mas discordo totalmente. Minhas escolhas me trouxeram aqui onde estou. Arrependo-me de muitas ações, e não-ações feitas no passado. Talvez o erro ajude a construir cada personalidade (sou mortal, infelizmente). Acho que esse ano de 2010(ano par é ano de paz para mim)está na lista de os mais aproveitados e bem vividos. Estou aproveitando esse inverno não tão rigoroso, com cheirinho de veranico. Queria dormir a manhã inteira. E trabalhar. Gostaria de estar escrevendo esse post na beira do mar. Ondas me inspiram. Gosto de música. Todo tipo de música. Quando eu digo música, me refiro ao audio-musical com conteúdo, e não ao audio-visual (como alguém um dia já me disse). Queria morar na Noruega, onde o caráter dos cidadãos que decidem o futuro da nação. Quero sair do país onde o patriotismo reina em época de torneios, onde pago imposto para sustentar criminoso, onde sustento uma corrupção mascarada pela alienação dos telespectadores, onde pessoas morrem, literalmente, à espera de um atendimento médico. É claro que eu adoro a culinária, as pessoas e o litoral do Brasil. Já que o blog é meu, acho que posso viajar né, então como eu sei que no máximo minha mãe vai ler, lá vai. Quero me eleger presidente. Quero a legalização da maconha (motivos: supostos traficantes pagariam altos impostos, causando a diminuição da venda). Gosto de cultura, mas ainda mais de divertir com besteiras. Amo qualquer tipo de vídeo, desde cinema até os DVD's alugados no final de semana na Turbo Game (sem marketing, mas é tradição). Respeito 90% da pré-adolescência feminina que é doida varrida por Crepúsculo e cia. Poxa, vampiros não brilham! São mortais quando expostos ao sol, e não se apaixonam por humanos! Conde Drácula, coitado, deve estar se remexendo no caixão... Tirando toda essa parte desprezível da história, eu sou apaixonada pelo romantismo do Edward. Fazer o quê, sou polêmica, mas acima disso, sou mulher. E eu amo ser mulher. Gosto de viajar, descobrir, conhecer. Inteligência me atrai, acho que é até afrodisíaco. Quero todo o conhecimento do mundo. Quero eternizar meu amor pela minha família perfeita. Mandar um salve para minhas amigas, e alguns amigos, que me fazem rir e chorar. Gosto de respeito. Gosto de diferenças. Gosto de respeito por diferenças. Gosto de Eletricidade. Gosto de Filosofia. Gosto de mistérios. Gosto dos venenos mais lentos, das bebidas mais amargas, das drogas mais poderosas, das ideias mais insanas, dos pensamentos mais complexos, dos sentimentos mais fortes… tenho um apetite voraz e os delírios mais loucos(...) Não me dêem fórmulas certas, por que eu não espero acertar sempre. Gosto do que gosto. Não gosto de me definir, mas gosto de dizer do que gosto.










Ao som de um Jack Johnson.